segunda-feira, 30 de março de 2009

Nosso Conto

Uma brincadeira por email:


"Fazia muito tempo que nada de grave acontecia no reino. E isso é sempre prenúncio de horríveis desgraças. Assim, quando o rei saiu aquela manhã, tal como fazia toda manhã, indo em direção do enorme prédio do mercado, acenando todo pomposo para todos que passavam, avistou uma cigana vindo em sua direção.
Ela, com aquele aspecto típico de cigana de quinta, gorda, cabelos presos e sujos, uma saia longa colorida desbotada, xale rasgado, pele escura maltratada pelo tempo e pela falta de cuidados, usando seu portunhol clássico, se aproximou do rei, e estendendo a mão, disse: "Yo quiero ler tu suerte, ó grand majestade...". O rei teve nojo da mulher sebenta, e mais contrariado ficou ao perceber que nenhum guarda ninguém havia impedido a mulher de chegar tão perto dele. Perto o suficiente para sentir o cheiro azedo que vinha das dobras de gordura, fermentando de suor. Ele levantou a voz para o chefe da guarda, pedindo providências, mas nenhum som saiu de sua garganta. Ele agitou os braços freneticamente, mas nenhuma parte de seu corpo se mexeu. Foi então que chegaram os guardas e jogaram a cigana no chão. Ela caiu de queixo nos pedregulhos da estrada, criando uma poça de sangue ao seu redor. Eles amarraram-na, e ela debatia-se e gritava: "Por dios, soy una pobre alma..." Depois de completamente rendida levantaram a velha que mirou bem nos olhos do rei, este sentiu seu peito apertar e sua respiração parar por um instante e com um olhar de rancor profundo ela proferiu suas últimas palavras antes de ser escorraçada do reino... “La praga del lest virá e cobrirá tu tierra de una delicada e insuportable angústia. O que era, no será. O que ficava, deixará de estar. Usted mismo no saberás se és rei, se és servo, se és qualquer cosa. E assim com todos os outros…" Dizendo isso, a cigana se calou e fechou os olhos. E lentamente um ruído foi se fazendo ouvir, cada vez mais forte. Era o som da agonia, do tormento que estava chegando aos lares de cada pessoa do povoado. Todos, instintivamente, correram para suas casas e trancavam-se lá. Mesmo os que não viram o acontecido, faziam o mesmo. Era uma força maior que eles. A correria estava uma grande confusão, todos gritando, correndo, uns caiam, e outros pisavam nesses sem nem pensar duas vezes. Mas, por fim, tudo ficou em silêncio. E em torno do rei seus guardas ficaram calados. E tudo pareceu parar, ao mesmo tempo em que o corpo da velha cigana, estranhamente, aumentava de tamanho, esparramando-se pelo chão de pedras, envolvendo os troncos das árvores, as colunas das construções, os vãos do terreno. Vendo isso, e antes que a estranhíssima onda chegasse aos seus pés, o rei rompeu o silêncio e disse: "Oauuu, esse cogumelo da vendinha do seu Manoel bateu forte." Balançando a cabeça para ver se voltava ao seu estado normal, exclamou: "Guarda Joaquim, vá até a venda do Manoel e faça uma encomenda de três caixas do cogumelo que me vendeu a pouco!" Nisso, olhou novamente para a cigana, que ainda estava derretendo e envolvendo a cidade com seu corpo, se concentrou bem nessa imagem e de súbito sentiu uma onda quente subir por seu corpo e não aguentou, desandou a rir. Gargalhava tanto, que chegou a cair no chão de joelhos, e implorava com as mãos na barriga: "Por dios, pare, não aguento mais, está doendo. Jesus, que engraçado, façam ela parar, não aguento mais rir". Ninguém entendeu nada, porque motivo de tanta gargalhada não havia. Mas o rei havia percebido algo que ninguém mais percebera: não havia cigana, nem tormentos, nem reino, nem rei, nem nada. O que havia era apenas um prédio enorme, amarelo, com janelas marrons, algumas abertas e outras não. Estavam todos em um jardim cercado por um muro alto e pessoas vestidas de branco. Veio um sujeito e disse ao rei: "Majestade, vamos colocar a túnica real? Isso coloque os braços aqui, assim..." E logo o rei estava bem protegido, mãos por detrás das costas, braços firmemente presos. Escoltado por seus vassalos, ele foi levado para o aposento real, todo acolchoado, do chão ao teto. Ali, protegido, ele pode, por fim, viver como um rei. Um rei de si mesmo, como todos os outros quinze reis do hospício."

FIM

_Lakka e M. _

sábado, 28 de março de 2009

Lição Apreendida

Lição Apreendida

Ela insistia que o sempre era muito tempo.
Para ela sempre e nunca eram sinônimos perfeitos.
Ele tentava na maior paciência explicar, mas ela nem ouvia.
Um dia os dois deitados na cama,
um de frente para o outro e ela solta:

"Nossa nem parece que foi ontem que te descobri,
parece que faz tempo,

não, parece que é desde... desde sempre!"
Nisso ela pára assustada,

olha para ele e ele sorri: "Sim, sempre!"

_Lakka Fagundes_